26 de fev. de 2012

Sobre Calçadas e Calçados.


Eu a vi assim
Como haveria de ser
O sorriso insincero sob carmim
A inocência a desvanecer

A silhueta jovem
Quase que irresistível.
Enquanto atende a clientela
– que não lhe falta!
Mas mantém a alegria intacta,
Oh, não soa crível.

E quando a noite termina
Ela desce do salto alto
E salta no ato
Pra sua vida de menina.

Com seu surrado all star
Outrora preto – já desbotado pelo tempo
E sua rodada saia de chita,
Escondendo o que, na noite,
A faz bonita.

E assim haveria de ser?
Morrer menina
Ou precoce mulher (sobre)viver?

Mas trabalha com tanto empenho,
Quanto, de caneta azul,
Seu tênis ela tinge;
Quanto trança seus cabelos;
Ou, defronte ao espelho,
Ensaia o prazer que finge.

Estranho é ser feliz
Com a vida que tem.
Estranho é ser tão nova,
E ser sozinha, sem ninguém.

Estranho é vender teu corpo,
Para alimentar uma sobrevida.
Estranho é ainda brincar de bonecas,
E não ter amigas.

Estranho é me desinteressar
Pelo teu corpo nu.
Estranho é gostar tanto
De seu all star azul.

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