31 de dez. de 2018

jaula

prendi um momento numa gaiola de píxeis:
agora ele sorri pra quem passa
pra quem deixa like
ele sorri sem graça
com graça
como convir
ele sorri

ele tira o chapéu, educado
cumprimenta, dá bom dia
ele deixa ir o apressado
e ao atento ele troca
um afago ele troca
uns olhares de cortesia

mas é só apagar as luzes
que vou limpar sua gaiola,
e copioso ele chora
quero ir embora ele chora
e embora não haja embora
ele diz não demora
e chora
ele chora eu quero ir

agora o momento faz greve de fome
e é sempre agora

no transluzir da aurora
o momento vai virando memória
e num museu de fósseis
ele ganha etiqueta
num museu de fósseis
ele perde o nome

o momento virou cadáver.

e a tatuagem no peito
do lema
fica pra mais tarde:
existe um abismo apenas
uma distância infinita e serena
entre o verdadeiro píxel,
a realidade pequena
e a derradeira carne

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