Eu sou um homem que fez as pazes com a sua solidão.
Nascemos amigos, é bem verdade, mas em algum momento
ao longo do caminho, a situação mudou.
É difícil amar um homem que não tem medo de estar sozinho, ouço quando as noites são frias. Ficar deixa de ser preciso, e passar a ser quero. A pungente necessidade irrevogável que sobe o estômago feito bile dá espaço a uma simples descarga elétrica de neurônios que dão as mãos em acordo para decidir que sim, o que queremos é ficar.
O amor deixa de ser o último drinque do Starbucks
com chantili e cereja na ponta, e passa a ser aquilo que despejamos às pressas
na caneca pela manhã, com a cara amassada e o cabelo despenteado.
Meu amor não é um croissant em frente à torre
Eiffel, meu amor é pão com manteiga. Todos os dias. O suntuoso combustível que me
toca a língua paulatinamente e lubrifica as engrenagens enquanto calço o sapato
para ir trabalhar.
Meu amor não é destino, não é final feliz, não
é condição avassaladora que toma de assalto e incendeia as concupiscências da
alma. Meu amor é uma decisão cotidiana. Uma escolha a ser feita dia após dia.
Amor e solidão aqui dentro são dois irmãos, que
não conseguem ficar no mesmo cômodo por muito tempo sem sair nos tapas. Foram
condicionados a acreditar que são a antítese um do outro. Que sua própria
existência ameaça a existência de seu irmão, e vice-versa. Absolutamente.
Quando se abraçam e fazem as pazes, entretanto, e ainda assim escutam a trilha
sonora que diz que o amor é fundamental, mas que é impossível ser feliz
sozinho, ambos torcem o nariz como se fossem reflexo um do outro. O amor vacila.
A solidão cede.
A solidão me faz forte, eu digo. Minha força
está na solidão e não tenho medo. Nada pode me machucar. O amor escuta, entorta
a cabeça e abre os braços em acalanto para dizer: ô, criança, vem cá – o que
mais você tem medo é de se machucar.
É impossível difícil amar um homem que
está em paz com a sua solidão, escuto não obstante, porque não é o deslumbre da
sexta-feira à noite que entorpece, mas a languidez do meio-dia de domingo. Abraça
a própria sombra. Está tudo bem se não vieres. Ficar não é necessidade, é
escolha.
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