O silêncio a engolia. Tapava-lhe os olhos com a escuridão
que cheirava a brócolis. Era assim, noite após noite. Mal se importava com o
céu estrelado que sorria para ela, ou com a brisa gélida que vinha só para despentear-lhe os cabelos demasiadamente curtos. Queria mesmo era lançar um grito
desumano... Mas não sabia ao certo se queria ser escutada. Mal adiantava colocar as
meias de lã e fugir em desengonço para o quintal, porque antes mesmo do
pôr-do-sol, as mãos de Sofia lhe cobririam a boca. E ela não lutaria. Não
lutaria porque não tinha certeza se queria ser escutada; se flertar com o
silêncio lhe fazia, de todo, mal.
Até que, na noite mais fria que encontrou, ela olhou para
cima. E viu logo um velho papel outrora maculado de carmim. E, assim que as
pontas de seus dedos quentes encontraram a superfície fria do papel, Feeló
gritou.
E seu grito carmim cortou o frio de uma madrugada
qualquer. (Ou de todas elas).
E Feeló sentiu, enfim.
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