5 de ago. de 2012

Quando Feeló Quis Gritar.



O silêncio a engolia. Tapava-lhe os olhos com a escuridão que cheirava a brócolis. Era assim, noite após noite. Mal se importava com o céu estrelado que sorria para ela, ou com a brisa gélida que vinha só para despentear-lhe os cabelos demasiadamente curtos. Queria mesmo era lançar um grito desumano... Mas não sabia ao certo se queria ser escutada. Mal adiantava colocar as meias de lã e fugir em desengonço para o quintal, porque antes mesmo do pôr-do-sol, as mãos de Sofia lhe cobririam a boca. E ela não lutaria. Não lutaria porque não tinha certeza se queria ser escutada; se flertar com o silêncio lhe fazia, de todo, mal.

Até que, na noite mais fria que encontrou, ela olhou para cima. E viu logo um velho papel outrora maculado de carmim. E, assim que as pontas de seus dedos quentes encontraram a superfície fria do papel, Feeló gritou.

E seu grito carmim cortou o frio de uma madrugada qualquer. (Ou de todas elas).

E Feeló sentiu, enfim.

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