21 de dez. de 2016

selfie

me manda
uma selfie
pra eu saber
que você ainda

é
pra não esquecer
teus traços
não te perder
nos rostos
pelos quais

eu passo
no meio de tanto
like
tanta foto
tanto fato

vê se leva
um carregador
não fica
sem bateria
só pra eu saber

que você ainda respira
e pode
me mandar
emoji

de coração
me responde
me visualiza
quero ser visto não
quero

prestar atenção
me curte
me compartilha
me corta aos píxels
aos posts me fatia
carne
e osso
e filtro
e personalidade
enlatada
rende uma vida toda

só adicionar água
sou só

o que posto
do resto eu fujo
sou só

o que importo
só o que tá pronto
ao alcance do ponteiro
tô distribuído aí

pelas redes
sociais
mas
eu nunca


inteiro.

8 de out. de 2016

to those lovers I did not love

to those with sad eyes
for which I no longer daydream
to the mouths that were once dry
and now are as thus they shall be

to the whispers I did not hear
and the touch, either warm or cold
to the heartbeats that were only fear
to Love, and its reputation to uphold

regret not! for the heart has
its own cunning curves;
and a moment is but a moment:
be it joy, be it lust.

and weep, yes, if you may
for the unwritten verses
for there is a time to say
and there is a time to shut

you see, friend, the world
is a pulsating force

and hence, there is no choice
other than pulsate and come and go

though exquisite song we were
so it is written, so it shall be done
for a bird must fly free, that is for sure
and one cannot love 
a love that is not their own.

24 de jun. de 2016

caos

tenho passado noites em claro.
tenho manchado papéis com tinta de caneta
e estão todos amassados. tenho pensado
tenho passado
tempo demais
pensando
e é isso que tá errado!
tenho tentado achar ordem
no caos e tenho fracassado
uma, duas, trinta vezes tenho pensado.
tá pesado, é um fardo
saber quando na realidade não tenho que saber de nada
saber quando estar errado
deixar a água correr proutro lado
mesmo de boca seca e sede
aprender a olhar o que está, o que nunca esteve.
apreciar a pungência da secura do agora
mesmo enquanto implora
à chuva
que chegue

Só então estou completo.

firme como um prego
em um monte de areia
movendo-se por entre os grãos
e então
permanecendo entidade inteira
agarrado fraco ao chão
na tempestade ou na chuva ligeira
mas movendo, não estanca
e quiçá até sangra
quaisquer pisadas certeiras

e ainda que falte o martelo
que o faça trabalhador singelo
segurando arte em parede rude
há de entender-se completo
deitado no chão de concreto

pleno

em sua implenitude.

2 de abr. de 2016

das belezas

é penosa a vida tal
qual de poeta
que vive na sombra
de que cada coisa dita
seja uma coisa bela

acorrenta-se aos grilhões estéticos
e esquece o choro, o amargo, a rotina
a penumbra, a poeira,
os azulejos da cozinha!
não sente das coisas
o seu próprio afeto

pois olha e vê:
beleza é um treco rasteiro
tá nos detalhes, mas tá no inteiro.
e tem até onde não tem;
beleza no mundo é espelho.

pois olha e vê
em cada suspiro,
um manifesto
e é só então
que será belo
a você
todo o resto.

29 de fev. de 2016

tanto dia tem


tem dia que eu sou baderna,
sou bagunça, sou espetáculo.
tem dia que eu falho.
que tropeço, que falo muito baixo.
tem dia que nem falo, não faço.
tem dia que mal sei o caminho de casa,
que todas minhas verdades são questionadas.

tem dia que sou amar,
sou mar, sou amargo.
tem dia que acordo pra enfiar a cara no barro.

tem dia que sou desordem,
sou desalinho, sou embargo.
tem dia que sou carência,
sou sozinho, sou fraco.

tem dia que só sou sorriso e sucesso.
tem dia que eu erro
e prometo a mim mesmo:
jamais o regresso.

tem dia que eu não cumpro minhas promessas.
tem dia que sou paciência,
tem dia que sou pressa.

tem dia que sou tempestade,
tem dia que sou orvalho,
tem dia que sou relento.

tem dia que sou frustrado.
mas todos os dias
eu tento.

15 de fev. de 2016

Caverna


encontro-me ao tatear as cinzas da tua beleza:
estão rabiscadas em carvão e parede áspera
mas posso jamais tocá-la, qual grande graça
fixa aos meus próprios olhos, cor de incerteza.

sinto a maciez das tuas pétalas, a curva de teu murchar
e quero você em meu altar, sendo artista e sendo plateia
mas esse querer é senão sombra efêmera e vulgar
de uma tarde regular no meu mundo das ideias 

o que farei, enfim
quando esta parede desmoronar
ou esta luz sumir no entardecer?

ficarei então preso à batalha 
de querer sem poder tocar,
ou tocar sem jamais querer?


(foto de: https://www.instagram.com/fineart.photography/)

(poeminha escrito para um saudaoso Campeonato de Textos).

26 de jan. de 2016

second thoughts


I’m too afraid to write you a poem. Far more than heights, far more than spiders. It is not a fear I’m willing to avoid, to leap, to jump or to kill. I will not step over this walking shadow of expectations. I will not pray this ghost away.

I will pray for him to stay.

Because as long as I feel a thousand of possibilities and insecurities shivering down my spine, my verses will hang unwritten. Floating over this colorful – but bright – abyss between not good enough and not feeling at all.

I’m savoring this uncertainty.

I’m treasuring every signal I might’ve misread, for that has been teaching me how to stay afloat when the ocean is far too much troubled.


I’m embracing the wholeness of myself.

hierarquia

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você” (Nietzsche)

falo em nome dos bons costumes e da moral:
se coloco os joelhos ao chão,
é pra ganhar o direito de apontar o dedo
na cara de marginal
não é diversão, é meu dever
já que, sabes bem, irmão
não adianta discutir:
sou mais humilde que você.

fala o que quiser aí
pra qualquer coisa eu tenho resposta
ou melhor, falar nada não
que eu sei que cê vai falar bosta
vai estudar e para de falar asneira
ainda assim, sambo na tua cara
de qualquer maneira

foda-se tua história
porque eu sou todo desconstruído
mas funkeiro? pão com ovo?
ah, para! aí não, né, migo?

segura essa marimba
que sou viciada em problematizar
só tô te dando corda
pra ver qual é o próximo deslize
que cê vai dar

pra que eu vou te ouvir?
se eu já sei que tá errada
e se tem uma coisa
que eu não sou nessa vida
é obrigada

ai, miga, pelo número de likes
acho que já deu pra perceber:
não adianta discutir
no fim das contas

eu sou melhor que você.