10 de nov. de 2012

Embriaguez Confessa.


Eu matei um homem. E venho matando-o desde sempre. Desde antes de ser e ter aprendido a vomitar sobre o papel palavras que fui engolindo aos pouquinhos: verdades inventadas, mentiras amargas e, só vez ou outra, uma letra cinza.

Matei um homem e guardei sua alma na gaveta de meias. O corpo deixo por aí, arrastando-se pelos cantos enquanto acredita que é algo além de um bando de ossos e pele e órgãos, nos quais não resta o menor resquício de vida. Quebrei todos os espelhos da casa para que, quando esbarrar os olhos, não ecoe de dentro tamanho vazio... zio... io.

E os copos, enchi-os todos. Duas pedras de gelo: uma para a solidão da outra. Se grito assim, escondendo minha culpa detrás das linhas, é porque já desisti de me importar. E viro as costas antes de ver você, a quem minhas palavras talvez atinjam (como talvez pendam inertes e se percam pelo caminho).

Matei um homem. A noite é fria e a manhã é cinza. Temo que este homem seja eu. 

Um comentário:

  1. "Desde antes de ser e ter aprendido a vomitar sobre o papel palavras que fui engolindo aos pouquinhos: verdades inventadas, mentiras amargas e, só vez ou outra, uma letra cinza." Não me pergunte o porquê, mas foi meu trecho preferido.
    Me tocou, não sei se entendi da mesma forma que você, mas acho que também mato uma mulher, quando sufoco as palavras que deveriam ser transformadas em textos, quando sufoco os sonhos, as vontades.
    E o layout do seu blog é o mesmo do meu.

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