26 de fev. de 2012

Rimas Mortas.

Fui-me então.
O fechar dos olhos...!
O envolver duma escuridão...!

Fui-me então.
Desta minha vida parti.
E sequer lembro se existi.

Mas trouxe a caneta comigo.
(E ela ainda é tão viva...!)
Ao pulsar em meu bolso, seu abrigo
Clama por outra saída.

Mas sabes bem pequena,
Sempre fostes meu coração.
Lembra-te de como era tenra
Ao deslizar nos dedos de minha mão?

Eras tão bela no rodopiar vertiginoso
Que se fixava no papel, feito eterna espiral
Mas agora este poeta é morto,
E fazer verso agora é vital.

Pois já não me lembro
Do mundo que deixei
Lembro, apenas, das rimas que fiz
Dos amores que versei.

E se agora eu o refaço
É porque não ouso esquecer
Não sei dar nó sem laço
Tampouco sei se sei morrer.

Escrevo sussurros cadenciados
Pois sou feito de tinta azul
Preciso do meu silêncio gritado!
Vivo nas entrelinhas dum poema cru.

Escrevo também seus sorrisos
Os triunfos que deixei há muito,
As alegrias efêmeras e intrínsecas
No perfume doce dos teus olhos úmidos.

Recriei, em tinta de caneta
O tontear do prazer.
Refiz estrelas e planetas
Só pra vê-los quando anoitecer.

Mas sou menino-cinza:
Sem noite não sei existir.
Não sei morrer sem rima,
Mas não sei rimar sem deixar cair.

Fiz meu mundo em poesia,
Reticências e vírgulas
Mas fracassei! Meu mundo não me pertencia
Pois sou nu: despi-me da vida.

Mas sou poeta morto:
Fracasso de sorriso enviesado.
Meu mundo agora é outro;
Que estes versos padeçam comigo:
Enterrados.

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