23 de jun. de 2015

#02 (para apreciar também os dias tristes)


não há poemas escritos para os dias de céu limpo. é preciso que se anuviem os olhos para que as rimas comecem a aparecer. não há estrelas no céu escuro, ou há porque não as vemos? só destruímos o que podemos construir.

tenho me forçado a perguntar os porquês. não quero estar triste mas por quê?! por que, pergunto, se, bem clamo, não há poemas escritos para os dias de céu limpo. quero amar, ser bom, ter sucesso, ser bonito, ser feliz... por que, por que, por quê? se cada suspiro tem seu tom e seu valor. não há nada que me tape os vazios senão legitimamente ser. sem quereres ou poderes ou pudores. ser tempestade quando convir, céu nublado quando precisar e sol se assim for, mas invariavelmente celebrar a pungência de ser o que se é e sê-lo agora. é sempre agora, no fim das contas.


só destruímos o que podemos construir. nada me destrói além de mim.

10 de jun. de 2015

#01 (gaveta)

Meu objetivo pessoal é sentir medo de três coisas, no mínimo, do nascer do sol à meia-noite.

Hoje mesmo, apareceu uma aranha no meu quarto e fui lá pra dizer um oi. Que se sentisse confortável, a casa é sua, só não repara a bagunça. É assim que quero lidar com todos os meus medos. Quando o fracasso tapar-me os olhos e chutar-me os joelhos, quero poder olhá-lo nos olhos e dizer: a casa é sua, só não repara a bagunça. E se rirem de mim, se não me aceitarem por quem sou, se a noite for muito escura ou o abismo muito fundo, quero pegar-lhes todos pela mão, afagar seus cabelos, fazer piada sobre o jeito que eles andam e passar-lhes um café. Quanto mais a gente faz força, mais forte a gente fica. Quanto mais temos coragem, mais coragem nós temos. Cês gostam de Friends? Hoje eu vou ver Friends. Sentem ali que já já o café tá pronto. Sintam-se confortáveis, a casa é de vocês.



8 de jun. de 2015

Manifesto.


Costumava orgulhar-me em saber das coisas.

Dos meus planos, das provas, o nome das flores no jardim e a espécie dos passarinhos. Saber das contas, mas dos poemas. As reações químicas e os sentimentos. Hoje orgulho-me em não saber de nada. Sei que sou e que vou, mas não sei quem ou onde. É a descoberta que move, e há de se saber que sempre há o que ser descoberto. Sempre há de se aprender e de se ensinar. Não sou só um pedaço de carne, mas sou também um pedaço de carne, como você e eles ali também. Pra olhar pra frente é pra dentro que se olha. E, se não der pra ver da lua, não me incomoda. Meu sucesso último é ser feliz. E lembrar de estar feliz é meu esforço constante